Viterbo e o Primeiro Conclave da Igreja Católica: Onde Tudo Começou
A palavra Conclave tem uma origem fascinante que revela muito sobre a história da Igreja Católica. Derivada do latim cum clave, que significa “com chave”, o termo designa o processo de eleição papal onde os cardeais se reúnem em local fechado e isolado, longe de pressões externas, para escolher o novo sucessor de São Pedro.
Esse sistema de eleição, porém, não surgiu de forma pacífica ou planejada. Pelo contrário, nasceu de uma crise, de uma longa espera e até mesmo de um ato de desespero dos fiéis. E, surpreendentemente, não foi em Roma que tudo começou, mas sim na cidade de Viterbo, uma joia medieval situada a cerca de 80 quilômetros ao norte da capital italiana.
Ali, entre muralhas e vielas de pedra, diante da paralisia da Igreja sem liderança, o povo interveio, trancando literalmente os cardeais e obrigando-os a tomar uma decisão. O episódio ficou tão marcado que deu origem à prática formal do Conclave, como conhecemos hoje. Viterbo, assim, não é apenas um destino de beleza histórica — é também berço de uma mudança fundamental na vida da Igreja.
O contexto histórico: o longo Conclave de Viterbo
Em 1268, morreu o Papa Clemente IV. Naquela época, as eleições papais eram longas e sem regras rígidas. Os cardeais se reuniam para deliberar, mas sem prazos, sem isolamento e, muitas vezes, expostos a pressões políticas dos reinos e famílias poderosas.
Após a morte de Clemente, os cardeais se reuniram em Viterbo para eleger seu sucessor. Passaram dias, semanas, meses… e nada. As rivalidades entre facções francesas e italianas paralisaram completamente a eleição. O impasse durou longuíssimos dois anos e nove meses, mergulhando a Igreja em uma grave crise de liderança.
Cansados da espera e temendo que a ausência de um Papa enfraquecesse a estabilidade social e política, os habitantes de Viterbo tomaram uma decisão drástica: trancaram os cardeais dentro do Palácio Episcopal (hoje Palácio dos Papas de Viterbo). Daí vem o termo cum clave: eles estavam literalmente fechados “com chave”.
Mas não parou aí. Para forçar uma decisão mais rápida, o povo ainda reduziu drasticamente a alimentação dos cardeais e, segundo relatos históricos, chegou a remover parte do teto do palácio, expondo-os à chuva, ao frio e ao calor, na esperança de que as condições extremas acelerassem a escolha.
Finalmente, em setembro de 1271 — quase três anos depois — os cardeais elegeram Teobaldo Visconti, que, mesmo não estando presente no conclave (ele estava em peregrinação na Terra Santa!), foi escolhido como Papa Gregório X.
A partir dessa experiência traumática, o próprio Gregório X instituiu regras formais para as futuras eleições papais no Concílio de Lyon (1274), estabelecendo oficialmente o sistema de Conclave que vigora até hoje.
Viterbo: a cidade que moldou a história da Igreja
Viterbo não é apenas cenário de um episódio extraordinário. Ela é, em si mesma, um tesouro de história, arte e espiritualidade. Fundada originalmente pelos etruscos, floresceu na Idade Média como uma das cidades mais prósperas do Lácio. Durante o século XIII, foi escolhida como residência de vários papas, tornando-se uma espécie de “segunda Roma”.
As ruas de Viterbo preservam até hoje o charme medieval: muralhas bem conservadas, praças de pedra, fontes históricas e igrejas seculares. O centro histórico, especialmente o bairro de San Pellegrino, é considerado um dos mais bem preservados da Itália, com suas casas de pedra, passagens elevadas e pátios internos.
Caminhar por Viterbo é como viajar no tempo. Cada esquina conta uma história. E é impossível não sentir o peso simbólico de seus muros: ali, onde cardeais foram trancados para garantir a continuidade da Igreja, a fé e a política se entrelaçaram de maneira decisiva.
Viterbo também é famosa por suas fontes termais — as famosas Terme dei Papi, já conhecidas na Antiguidade e frequentadas até hoje por quem busca saúde e relaxamento.
Mas para os que amam história e espiritualidade, o grande destaque continua sendo o legado do Conclave de 1270, ainda muito vivo na memória da cidade.

O Palácio dos Papas: testemunha de um momento histórico
O principal ponto turístico e espiritual de Viterbo é, sem dúvida, o Palácio dos Papas (Palazzo dei Papi). Construído entre 1255 e 1266, o edifício impressiona pela austeridade e grandiosidade típicas da arquitetura medieval.
Foi neste palácio que os cardeais foram enclausurados durante o histórico Conclave de quase três anos. Ali, entre paredes espessas e o famoso salão do trono (o Aula del Conclave), ocorreram discussões acaloradas, orações desesperadas e, finalmente, a eleição de um novo Papa.
O palácio ainda conserva elementos originais, como o célebre pórtico externo, a escadaria monumental e o claustro interno. Visitar o Palácio dos Papas é como pisar diretamente no cenário onde um dos momentos mais críticos da história eclesiástica se desenrolou.
Além disso, no interior do complexo está a belíssima Catedral de San Lorenzo, onde alguns papas viveram seus últimos dias. A catedral, com sua fachada românica e seus altares barrocos, completa o conjunto arquitetônico que faz de Viterbo um verdadeiro santuário da história da Igreja.
Viterbo hoje: fé, cultura e memória viva
Hoje, Viterbo é uma cidade que une com maestria o passado e o presente. Seus eventos religiosos continuam sendo vibrantes, especialmente a famosa Festa di Santa Rosa, em setembro, quando uma gigantesca torre iluminada é carregada pelos “Facchini” pelas ruas estreitas da cidade, em honra à padroeira local.
Para quem visita, Viterbo oferece uma experiência completa: história viva, arte preservada, culinária típica (experimente o acquacotta, uma sopa camponesa deliciosa!), e uma atmosfera de fé tranquila e duradoura.
Em cada pedra de suas ruas, em cada arco de suas construções, ecoa a memória do primeiro Conclave e da coragem de um povo que, com respeito e determinação, ajudou a Igreja a encontrar seu novo pastor.
Viterbo não é apenas uma cidade para ser vista — é para ser sentida. Cada passo é uma viagem pela história da fé.
Viterbo, o berço silencioso de uma grande tradição
Poucos lugares carregam em si uma influência tão profunda sobre a história da Igreja quanto Viterbo. Nesta cidade, com suas pedras medievais e suas praças silenciosas, nasceu o Conclave — uma tradição que garante há séculos a continuidade da liderança espiritual da Igreja Católica.
O episódio do Conclave de Viterbo mostra que a fé não é apenas uma realidade espiritual abstrata. Ela se encarna na história, nas escolhas humanas, nos gestos concretos de comunidades que, movidas pela esperança e pela responsabilidade, moldam o curso dos acontecimentos.
Viterbo é testemunha de que o Espírito Santo sopra não apenas nos palácios dourados, mas também nas ruas simples, entre o povo que, com coragem, exige fidelidade à missão da Igreja.
Visitar Viterbo hoje é mergulhar nessa história viva. É caminhar pelas trilhas onde a fé e a história se encontraram de forma tão decisiva. E é, acima de tudo, reconhecer que, mesmo longe dos holofotes, há lugares que mudam o mundo para sempre.

FAQs – Perguntas Frequentes
1. O que significa a palavra “Conclave”?
“Conclave” vem do latim cum clave, que significa “com chave”, e designa a reunião secreta dos cardeais para eleger o Papa, em local fechado e isolado.
2. Onde ocorreu o primeiro Conclave oficial da Igreja Católica?
Em Viterbo, no Palácio dos Papas, após a morte do Papa Clemente IV, entre 1268 e 1271.
3. Por que o povo de Viterbo trancou os cardeais?
Para forçar a eleição de um novo Papa, pois o impasse entre os cardeais já durava quase três anos, prejudicando a liderança da Igreja.
4. Quais são os principais pontos turísticos de Viterbo relacionados ao Conclave?
O Palácio dos Papas, a Catedral de San Lorenzo e o bairro medieval de San Pellegrino são os locais mais importantes ligados a esse capítulo da história eclesiástica.
5. O que mais posso visitar em Viterbo além do Palácio dos Papas?
Além dos locais históricos, Viterbo oferece as famosas termas (Terme dei Papi), festivais religiosos, muralhas medievais preservadas e uma culinária típica deliciosa.